Não compre qualquer livro para seu filho

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Sete conselhos para mães e pais fazerem as escolhas corretas quando se trata de literatura infantil 


Não sou muito boa com lembranças da infância, mas pelo menos dois momentos vivos em minha memória me remetem aos livros. Lembro de minha mãe nos levar ao espaço da editora Miguilim, em Belo Horizonte, para explorarmos as suas estantes coloridas, repletas de histórias. Também me lembro de ir com a família na livraria Ediouro para comprarmos livros: Vivi Pimenta, Inspetora, Goiabinha.... Era uma das poucas coisas que podíamos escolher e comprar à vontade.

Essa memória afetiva é um exemplo claro de que a literatura é um lugar de encontros, que constrói experiências de amor, promove diálogos, para não dizer a óbvia bagagem cultural que nos oferece.

“Quando estimulada deste pequeno, a leitura traz perspectivas criativas que ajudam o sujeito a criar caminhos próprios e ter soluções inovadoras. Esses são atributos mais do que necessários na vida adulta, um trunfo, especialmente no tempo da chamada indústria criativa.” 


Quem me disse isso foi a Rona Hanning, que trabalha com literatura há mais de 25 anos e há 10 anos coordena o Instituto Ler, no Rio de Janeiro, cujo premissa é equipar pais, educadores e crianças para lidar com a literatura infantil contemporânea. E a Rona já dá o primeiro alerta: “Os pais precisam assumir a responsabilidade na escolha dos livros que os filhos irão ler desde a barriga. Este é o começo da trajetória de uma vida de leitura. Não é qualquer livro.”


Rona Hanning, do Instituto Ler

A Rona nos deu dicas preciosas sobre como nos orientarmos nessa jornada literária. Afinal, mesmo que você não seja uma leitora, cara amiga mãe, você sabe que ler é importante.


1

O mundo mudou

Não seja conservador em suas escolhas. A literatura infantil era muito tradicional até bem pouco tempo atrás. A riqueza do material e a diversidade de temas que existem na atualidade é enorme. Os pais ainda tendem a ir ao lugar comum, preferem comprar uma história que fala sobre o coelhinho, do que um outro livro que fale de temas mais delicados. Deste jeito, não formamos leitores. O livro fica démodé para as crianças que têm sede e acesso constante a novidades.


2

 Não existe arte boa para todo mundo 

“Sempre espero que os pais conheçam os filhos que têm”, disse Rona. Apresente sempre coisas novas para o seu filho, mas escolha a partir do perfil da criança.


3

 Cuidado com a moral da história 

Fuja de livro que fala sobre alguma coisa. Boas histórias não falam sobre alguma coisa. Uma boa história possui um bom personagem vivendo uma situação que seja interessante para a criança. 


4

Vasculhe as prateleiras das livrarias 

Muitas vezes, as livrarias não têm profissionais que nos ajude a escolher um livro infantil de qualidade. Transponha o “muro” dos livros mais tradicionais ou chamativos, com brilhinhos, brinquedinhos etc., que nos impede de encontrar algo que realmente valha a pena


5

Participe de encontros literários 

Aqui no Rio, a Rona Hanning coordena há mais de um ano, uma vez por mês, sempre aos sábados,  os projetos LAB e o DIALOG, na Casinha do Saber. O objetivo é envolver crianças e adultos numa trajetória educativa voltada para a potência criativa.

O LAB - Laboratório de experiências filosóficas com crianças é destinado a crianças de 6 a 9 anos, com 2 horas de duração e acontece concomitantemente ao DIALOG (para pais, em outra sala). 

6

Busque novas dimensões 

Apresente histórias em que o sentido da vida seja de alguma forma abordado, em que seu filho  consiga ver que há na vida algo maior do que o humano. Na infância, isso pode ser explorado a partir da natureza e dos animais.

7

Cuidado ao apresentar a bibliografia que marcou a sua infância 

A linguagem é movimento e mudou muito da sua infância para a atual. Precisamos apresentar referências que possuam a linguagem do tempo em que as crianças vivem. No processo de formação de leitores, apresentar o que lemos quando pequenos vale mais como carga afetiva. “Tem a hora certa para introduzirmos os clássicos no repertório. Este é um erro que cometemos muito com os adolescentes”, diz Rona.


No próximo post conto as sugestões de livros infantis que a Rona nos deu. Cenas dos próximos capítulos... ; )

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