Coisa de menino, coisa de menina

Nossas crianças ainda estão sendo criadas com cabeças pouco preparadas para lidar com as evoluções sociais do mundo
Qual criança você quer ajudar a caminhar "pela estrada afora"?  Photo by Blake Lisk on Unsplash


Reunião na escola faz parte da agenda de final de ano das mamães e papais. A da escola do meu filho aconteceu esta semana e foi especialmente emocionante por se tratar do encerramento do ano. Fotos, vídeos, depoimento emocionado das professoras sobre a evolução dos pequenos, despedidas... Dá-lhe lencinho.

O ponto de partida para o começo da conversa com os pais foi a apresentação de um teatro que as crianças realizaram internamente. A história era Chapeuzinho Vermelho. Aos quatro, cinco anos, eles aprenderam todas as etapas de produção de uma peça. Texto, figurino, cenário. Cada um se incumbiu de uma função. A turma foi dividida em dois grupos e se apresentou para as crianças de três anos.

Na reunião de pais, vimos o vídeo dessas apresentações. Curiosamente, meu filho interpretou o Lobo Mau nos dois grupos – e eu nem sabia disso. Estranhei: “Ué, só o Miguel interpreta o Lobo?”. A professora explicou: “O Lobo é um personagem superdisputado. Todos queriam ser o lobo até saberem que ele teria que colocar a touca para se disfarçar de vovozinha."

Os meninos de cinco anos não queriam colocar uma touca porque é coisa de menina. Capisce? Isso não é surpreendente? Em 2017, com tanta informação e alertas sobre diferenciações rasteiras sobre gênero, imaginava que as crianças desta geração já pudessem crescer com a cabeça mais aberta. Mas, não. A sensação que tive é de que estamos evoluindo muito timidamente. Passos de formiguinha.

O preconceito nosso do dia a dia 


Segundo a professora, a escola faz questão de não incentivar essa divisão menino/menina. Mas, ela vai acontecendo na vida do meu filho e me pego observadora de pontos de vistas que nunca incentivei em casa. Dia desses, ele me contou surpreso: “Sabia que na minha turma tem uma menina que não gosta de princesa? Ela gosta de Star Wars, Beyblade e de brincar de luta.” Na mesma hora eu retruquei: “Menina não tem que gostar só de princesa e menino não tem que gostar só de luta, blá blá blá”. Fiz o papel da mãe socialmente responsável. Brilhei!

Mas, internamente, a carapuça me serviu. Lembrei de quando falei com ele que não era para brincar de luta comigo (depois de alguns murros e pontapés – mães de meninos, vocês me entendem) porque eu era menina... Aff, como é difícil educar.

Enfim... Essa história me fez refletir que é no dia a dia, nos pequenos gestos e falas descompromissadas que enraizamos nossos preconceitos. Vamos ficar atentos, mamães e papais. Que nossos filhos vistam toucas, arrumem a casa, cuidem dos filhos, aceitem as diferenças e sejam seres humanos mais abertos para este novo mundo, que não vai parar de evoluir.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Criança Waldorf: um olhar mais afetuoso para o mundo

Escola Parque é opção para os pais que buscam o construtivismo

Colégio Loyola e sua pedagogia inaciana é exemplo de formação cristã