Seis razões para trabalhar a alfabetização corporal de seu filho
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Na infância e adolescência, a linguagem do corpo é elemento primordial da comunicação. Photo by Shane Rounce on Unsplash |
Se uma imagem diz mais do que mil palavras, os gestos são fontes riquíssimas para captarmos as intenções e emoções dos que nos cercam. Daí a importância de estarmos atentos, como pais, à linguagem do corpo de nossos filhos. Ficamos tão preocupados com a linguagem falada dos pequenos, que esquecemos de olhar com mais atenção para a alfabetização corporal das crianças.
No comecinho da vida, é muito clara a importância das manifestações físicas no processo de comunicação. Afinal, antes de falar, a criança observa o mundo e se expressa através do corpo. Capta intenções, emoções, gestos e atitudes. Os desconfortos emocionais do bebê se manifestam claramente em alterações no sono, choro excessivo ou mudanças no apetite. Mas, quando eles vão crescendo e dominando a linguagem, corremos o risco de ficarmos menos atentos ao que o corpo diz. É importante não ignorarmos a linguagem corporal.
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Os sinais do corpo
Olhar vago ou perdido, esquivamento do contato visual, agressividade, agitação psicomotora, podem ser indicativos de que algo não vai bem com o seu filho. Mãos na cintura, braços levantados, pernas que não param, olhos arregalados ou que piscam muito, toques excessivos no rosto, orelhas, nariz, são algumas pistas de que uma mentira está sendo contada. No caso de abuso sexual, o corpo também diz muito. Regressões em comportamentos, como fazer xixi na cama ou voltar a chupar o dedo, falta de concentração ou recusa em participar de atividades são alguns sintomas, levantados por especialistas que podem alertar os pais.Na infância e adolescência, a linguagem do corpo é elemento primordial da comunicação, não só como indicativos para os pais, mas para que os nossos filhos aprendam a se posicionar melhor no mundo e tornarem-se cidadãos melhores.
O André Trindade, autor, terapeuta e educador, é referência em educação corporal na infância e adolescência. Por isso, o Blog Mãe, Aqui e Agora selecionou passagens interessantes do seu livro “Mapas do Corpo”, que mostram que o movimento é instrumento elementar na formação da personalidade e no desenvolvimento global da criança e do adolescente.
Pensar o corpo é pensar em...
1. Empatia
A linguagem do corpo é capaz de comunicar sentimentos como segurança, confiança, bem-estar, ordem, medo, raiva, impaciência, tristeza, vergonha, orgulho, entre uma infinidade de expressões. A simples observação das ações dos outros é capaz de ativar as mesmas regiões do cérebro do próprio observador através dos neurônios-espelho. Essa é a base biológica do sentimento de empatia, a capacidade psicológica de colocar-se no lugar do outro, de compreender o sentimento e as reações alheios, imaginando-se nas mesmas circunstâncias.2. Menos tecnologia
As experiências táteis primárias têm papel fundamental no desenvolvimento emocional, cognitivo e motor da criança e do adolescente. No entanto, a exploração tátil tem sido negligenciada na primeira infância, ou seja, ao longo dos seus primeiros anos de vida. As crianças são lançadas no mundo visual dos tablets e das telas dos celulares. Os pequenos são levados a criar conceitos a partir de imagens planas das telas. Deixam de experimentar profundidades, pesos, consistências, texturas, cheiros e temperaturas.3. Mergulho no mundo da imaginação
(...) Nós, adultos, passamos a exagerar na dose de estimulação do pensamento da criança. Chegamos mesmo a nos orgulhar dessa nova geração de crianças especialmente inteligentes, “intelectualizadas”, capazes de aprender conceitos, acumular conhecimentos, responder prontamente a questões formuladas pelos adultos. Importa menos o caminho que a criança percorreu para chegar as essas respostas. Há uma pressa para que a criança se desenvolva. (...) antecipamos respostas, desprezamos dúvidas e não permitimos que a criança mergulhe na exploração corporal e na investigação em busca de respostas próprias(...) o adulo, em nome de estimular o raciocínio da criança, rouba-lhe a sensorialidade, prova-a de viver o movimento presente em sua plenitude, de mergulhar no mundo da exploração e da imaginação. Ela é desviada de seu foco de interesse e, antes de chegar às próprias conclusões, é forçada a associações distantes de sua realidade. Não seria essa uma das raízes da ansiedade contemporânea?
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"Há um mistério na imaginação da criança pequena que nós, adultos, nunca vamos alcançar totalmente", André Tridande. Photo by Hugues de BUYER-MIMEURE on Unsplash |
4. Dor
Pele e emoção estão profundamente ligadas (...) Entre as experiências da pele, a dor é uma das mais significativas. Além de buscar alívio para essa vivência, é preciso compreendê-la. Nesse sentido, dizer que “vai passar” é melhor do que dizer que “não foi nada” (...) é preciso ajudar as crianças a reconhecer e dimensionar as diversas situações dolorosas. Estar junto delas e dar sentido e conforto por meio das palavras, acolher o choro nos tombos, nas quedas, nas picadas de insetos e no medo das injeções e fortalece-las diante de dores menores.5. Limite
A falta de limites comportamentais de crianças e adolescentes é queixa comum por parte de educadores e pais. O assunto é complexo e envolve as atitutes tanto do adulto quanto da criança. Outro sentido da palavra “limite”refere-se ao sujeito em seu contorno físico e psíquico. Ao reconhecer o próprio “contorno”a criança terá maior possibilidade de compreender o “contorno” do outro e as leis que regem os diferentes relacionamentos. Assim, o contorno físico possibilita delimitações sociais.
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