Cuidado ou superproteção: o perigo de nos tornarmos pais helicópteros


Maternidade
Renata Klein, personagem de Laura Dern em "Big Little Lies" é um exemplo de mãe-helicóptero


A interferência dos pais nem sempre é positiva para o desenvolvimento dos filhos. Estudo mostra que cuidados excessivos aos dois anos podem acarretar em problemas de comportamento aos cinco e dez anos de idade


As intenções são sempre as melhores. Mas, a linha divisória que separa cuidado materno e superproteção nem sempre é bem clara. Já parou para pensar que você pode ser um pai/mãe “helicóptero”? Daqueles que ficam sobrevoando o filho e muitas vezes, sem perceber, o impede de lidar com frustrações necessárias para o seu desenvolvimento?

Um estudo recente mostrou que o controle excessivo nos primeiros dois anos de vida dos nossos filhos associa-se, negativamente, às regulações emocionais e ao controle de ações impulsivas ou responsivas aos cinco anos de idade e, mais adiante – aos dez anos - a mais problemas escolares, dificuldades emocionais, menor habilidade social e menor produtividade acadêmica.

Pode ser difícil, mas os especialistas dizem que muitas vezes é preciso deixar nossos pequenos enfrentarem por conta própria uma agressão, correr o risco de se machucar, lidar com a decepção de não ser aceito em um time da escola ou de ganhar uma competição para poder aprender. Como dizia o dramaturgo grego Ésquilo, “a recompensa do sofrimento é a experiência”. Portanto, a interferência dos pais nem sempre é positiva, acredite.

Mães que assumem o controle 

Os pesquisadores da Universidade de Minnesota, da Universidade da Carolina do Norte e da Universidade de Zurique examinaram o comportamento dos pais e as atitudes de 442 crianças de dois anos convidando as mães e seus filhos para brincarem, em laboratório, com vários brinquedos por quatro minutos e depois, as mães deveriam deixar as crianças brincando sozinhas nos dois minutos seguintes. As sessões foram gravadas e os pesquisadores classificaram em que grau as mães tentavam assumir o controle das tarefas.

Aos cinco anos, o time de pesquisadores observou a resposta das crianças diante de um compartilhamento injusto de doces e a habilidade de cada uma em resolver um quebra-cabeça sob pressão. Quando as crianças atingiram os dez anos, os pesquisadores pediram aos professores para ranquearem problemas como depressão, ansiedade e solidão nas crianças, além da performance acadêmica e das habilidades sociais. As crianças também foram questionadas sobre suas atitudes em relação à escola e aos professores, bem como responderam questões emocionais.

“Leave those kids alone” 

“Pais que são muito controladores quase sempre são bem-intencionados e estão tentando dar apoio e estar presente na vida de seus filhos”, disse ao The Guardian a Dra. Nicole Perry da Universidade de Minnesota, coautora da pesquisa. “No entanto, para desenvolver habilidades emocionais e comportamentais, os pais precisam deixar que as crianças experimentem uma gama de emoções e precisam lhes dar espaço para praticar e tentar gerenciar essas emoções independentemente e só oferecer assistência quando (ou se) a tarefa tornar-se muito difícil.”


Super-mães

Em que a super-proteção materna pode interferir na vida dos filhos
  • Auto-regulação ou auto-controle: capacidade de modular as emoções e comportamentos no contexto das exigências ambientais - bastante desenvolvida nos primeiros cinco anos de vida.
  • Regulação emocional: processos que servem para modular, manter ou aprimorar a intensidade e a validade de experiências emocionais. Gerenciar frustrações, controlar ansiedades, desenvolver interações sociais positivas, tudo isso está envolvido com a regulação emocional. 
  • Controle inibitório: capacidade de inibir uma resposta comportamental dominante que pode não ser apropriadas para o contexto ou tarefa. Na infância, esse controle associa-se a comportamentos como levantar a mão antes de falar em sala de aula e não agir agressivamente quando for provocado na brincadeira do pátio. 

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